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Entrevista com Marcelo Branco

Política e Redes SociaisMarcelo Branco é atualmente o responsável por comandar as estratégias de redes sociais da pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. A entrevista com o ativista de software livres teve como tema a revoluções que as redes sociais estão trazendo a área jornalística e política.
Como você analisa o momento atual da liberdade de expressão na internet brasileira?
Marcelo Branco: Acho que a internet, com a mudança da legislação eleitoral, vai introduzir milhões de brasileiros na cena política. Não só como espectadores, ou como militantes, mas como voz ativa. Pessoas vão poder manifestar sua opinião através de textos, fotos e até através do áudio-visual. Acho que isso qualifica a democracia brasileira, pois coloca foco em pessoas que não teriam a oportunidade de se expressar de forma plena em uma campanha eleitoral. Acho que isso devolve aos apoiadores das campanhas políticas a direção sobre os seus rumos, pois a campanha na internet não consegue ser centralizada. O ritmo e a dinâmica da campanha vai estar muito em função do que estes apoiadores estarão fazendo na rede. As opiniões que eles colocarão na internet, nas redes sociais é o que vai direcionar os rumos da campanha. Acho que é muito importante para o aprofundamento da democracia brasileira esta possibilidade de indivíduos conectados em rede se expressarem sobre o momento político que estamos vivendo. Esta compreensão nova dos legisladores, de que a internet não é a mesma coisa que um meio de comunicação de massa por concessão pública, que precisava ser regulamentada de forma rígida, o entendimento de que a internet é um espaço de expressão individual, foi uma grande vitória para a democracia brasileira.
Você aposta, então, na força da comunicação horizontal? Acredita que as pessoas nas redes sociais terão voz com poder suficiente para fazer frente à mídia tradicional?
Sim. Acho que isso já está acontecendo, pois pela primeira vez a plataforma tecnológica do usuário, do público é a mesma que a do veículo. Se o veículo é uma rede de tevê poderosa e tem um blog, um Twitter, o público desta rede de tevê também tem um blog e um Twitter. Então, pela primeira vez, público, editores e empresas jornalísticas estão conectados na mesma matriz de mídia. Isso exige uma comunicação horizontal, um controle maior do público sobre as notícias que estão sendo publicadas. Este público vai poder intervir. Aquela soberba do jornalista ou do veículo de até mesmo destruir personalidades, atacar pessoas ou criar fatos, isso não é mais assim. Se um blogueiro, mesmo que seja de um grande veiculo, resolve atacar alguém de forma injusta, milhares de pessoas se manifestarão através de blogs e do Twitter, contestando aquela atitude. Uma noticia mal colocada poderá ser retrucada com fatos, vídeos, provas.
Algum exemplo?
Acho que isso aconteceu já nessa campanha, quando a Dilma esteve no ABC, falou sobre quem tinha fugido da luta e o jornal Folha de S.Paulo inventou uma frase dizendo que ela se referia aos exilados políticos. Isso foi contestado pela própria Dilma no Twitter. Ela foi lá e disse: “eu não falei isso”. Eles não levaram em conta, não deram bola. Aí, quando ela mostrou o vídeo do discurso, dando provas concretas, com fatos, de que ela não tinha falado nada em relação aos exilados políticos, pelo contrário, isso obrigou o jornal a reescrever aquele fato dizendo que a Dilma não havia dito aquilo que eles tinham publicado. Então, isso vai acontecer centenas de vezes durante a campanha eleitoral. A necessidade de que a verdade, os fatos desmintam possíveis noticias que interpretem mal uma realidade.
Por outro lado, esta fragmentação da informação também esbarra na audiência. O microcosmo deste ambiente virtual terá voz ativa?
Acho que o somatório destes microblogueiros sim. Mas é óbvio que audiência e credibilidade são coisas que se constroem ao longo do tempo. Então, quem tem ao seu lado uma coluna em um jornal diário tem mais chance de ter audiência na internet do que quem não tem. A internet não acaba com as desigualdades, mas acho que ela estabelece uma possibilidade de pessoas ganharem esta credibilidade na rede, influírem e muitas vezes pautarem os meios de comunicação. Isso tem acontecido nos últimos tempos. Vários fatos comprovam que a simples manifestação de pessoas nas redes sociais tem feito os veículos de comunicação corrigirem informações, em alguns casos até pautando estes veículos.
Até que ponto é válido para o Jornalismo ser pautado pelas redes sociais?
É um aprendizado importante. Que os jornalistas estejam sintonizados com a opinião dos leitores e não só com a opinião do dono do jornal. As redes sociais possibilitam esta relação na qual o jornalista precisa, cada vez mais, estar sintonizado com o público. Se o cara escreve num jornal, tem um programa na tevê, penso que ele não precisa se importar com o que o público está pensando dele. Ele se importa mais com o que o dono do veículo pensa dele, pois é desta forma que ele vai continuar trabalhando no veiculo. No caso da interação com as redes sociais é diferente. Se o cara começa a falar muita coisa que desagrada o público e esse público começa a se manifestar nas redes sociais, isso pode impactar na audiência do programa, da coluna, do espaço que ele tenha na mídia tradicional. Acho saudável para a comunicação essa possibilidade do jornalista ter a crítica e saber que nem sempre o profissional de comunicação é dono da razão. Muitas vezes, o público tem razão em relação à forma como está sendo feita uma cobertura e ele pode dizer: “olha, isso não está certo”. E isso tem acontecido. Os próprios veículos têm estimulado que o público faça a cobertura mandando informações, fotos.
Você considera positivo o chamado “jornalismo cidadão”?
Claro, acho positivo. A internet está questionando o papel do intermediário e não é só no jornalismo. Na indústria fonográfica foi assim. Ela fazia a intermediação entre o artista e o público. Toda a intermediação está sendo questionada. O jornalista intermediava a relação entre o fato e o veículo; e o veículo intermediava a relação entre o público e o fato. Então, tinha a intermediação do jornalista, que chegava com o fato no veículo, e do veículo, que intermediava este fato junto ao público. Hoje não. Hoje qualquer indivíduo em uma esquina com um smart phone nas mãos pode publicar algo. Se vai ter muita ou pouca audiência é outra discussão. Mas existe esta possibilidade. Então, o papel do intermediário, todo intermediário, tem que ser rediscutido. Acho que o papel do jornalismo pós internet, precisa ser rediscutido também.
E como fica a qualidade, a precisão da informação?
Isso é outra coisa que eu discuto. Quem garante que a qualidade de informação nos grandes veículos, nos grandes jornais, é boa? Quem sabe se a construção colaborativa de conteúdos não pode garantir uma qualidade melhor? Há o exemplo do próprio software livre. Os softwares feitos de forma comercial por grandes corporações são, sob o ponto de vista da qualidade técnica, muito inferiores aos softwares feitos por milhares de mãos, de forma colaborativa. Portanto, acho a notícia colaborativa interessante também. E o profissional não perde seu espaço. Ele terá a capacidade de elaborar textos mais articulados, artigos mais densos, que uma pessoa que não é profissional, que não tem formação nem experiência não conseguiria fazer. Esta cobertura do dia a dia será feita cada vez mais por pessoas que não tem a formação profissional em Jornalismo.
Você tem posição formada quanto à obrigatoriedade do diploma específico para o exercício do Jornalismo?
Acho que não há necessidade. Respeito a posição dos sindicatos dos jornalistas. Mas, como rato de internet que sou não posso concordar que o diploma seja um elemento chave para o Jornalismo, assim como não concordo que o diploma de analista de sistemas seja essencial para alguém exercer esta profissão. Fosse assim eu não poderia exercê-la, pois não tenho o diploma de ciência da computação e trabalho há 31 anos com isso.
Como você se informa?
Há 25 anos que eu não tenho tevê em casa. Então, nos últimos 25 anos não me informei pela tevê. Só assisto em quarto de hotel, em aeroporto. Eu lia jornais impressos até uns 10 anos atrás, mas tem quase isso que não assino nenhum jornal. Jornal eu pego por aí, mas não assino. Minha informação se dava, então, a partir da internet, dos portais, até três anos atrás. Foi quando passei a me informar exclusivamente pelo Twitter. Não que eu não leia informações da Folha Online, do G1, do Estadão Online. Eu leio o que eles publicam, mas a partir da minha rede de relacionamentos na internet. Pois as pessoas que a integram são relevantes, elas me mandam informações relevantes. Eu sigo jornalistas da grande imprensa, sigo amigos que não são jornalistas, mas que lêem muito o quê está sendo publicado nos portais. Mas, não busco informações diretamente nos portais. Acho que a era dos portais está acabando.
O Twitter é uma boa base de dados para filtrar informações?
O Twitter é o filtro perfeito. No twitter, se alguém me manda informação que eu não concordo eu paro de seguir. Então, se eu seguir 100 pessoas relevantes no Twitter – e hoje estou seguindo mais em função da campanha – estarei informado sobre tudo. E não significa seguir só aqueles com quem a gente concorda politicamente, isso é um erro. Tem fontes de informações que para mim são extremamente relevantes, mas que não concordam comigo em vários aspectos da política e da vida. Mesmo assim, são pessoas que trazem informação de qualidade. No Twitter eu não sou obrigado, como em um jornal ou um portal, a ver tanta coisa mal escrita, tanta coisa que eu não quero ler, mas que sou obrigado para chegar à informação que eu quero. O Twitter está fazendo uma revolução na comunicação, no Jornalismo, exatamente por ser o filtro perfeito. Eu só vou ler aquilo que as minhas fontes de informação, as fontes que eu considero relevantes estão publicando. Acho que isso é muito importante. Tem três anos que minha única fonte de informação é o Twitter. Se não vier pelo Twitter muitas vezes eu não fico sabendo.
Como você analisa o uso das redes sociais pela política partidária? Muita gente desconfia da presença do político nestas ferramentas.
É natural. As pessoas desconfiam dos políticos em todos os âmbitos. Na internet também, nas redes sociais também. É um novo espaço de convivência. Assim como as pessoas desconfiam das marcas e dos produtos, as agências de publicidade estão lá, presentes comercialmente no Twitter, no Orkut, no Facebook tentando posicionar seu produto. Com os políticos é o mesmo. É natural que eles queiram ocupar seu espaço nas redes sociais. Vai ter quem apóie isso e quem fique contrariado. Mas, nas redes sociais a gente segue e é amigo de quem a gente quer seguir e ser amigo. Essa é a diferença. Há pessoas que vão querer ser amigos no Orkut de políticos para ver o que eles estão fazendo. Há pessoas que vão querer seguir políticos no Twitter, pois consideram relevante acompanhar o dia a dia destes políticos. E há pessoas que não querem isso. As redes sociais são assim. É diferente do e-mail, onde você recebe um monte de informações indesejadas. As redes sociais são uma nova forma de relacionamento. Rede social não é só Twitter, Orkut ou Facebook. São novas formas de relacionamento que a humanidade está experimentando desde o surgimento da internet. É um novo espaço de convivência e cidadania. Então, é natural que a política partidária também se manifeste nele. Respeito e acho válido.
Que tipo de postura um político pode adotar nas redes sociais visando às eleições que se aproximam e que pode condená-lo perante os usuários?
Em primeiro lugar, ele vai ter que ter muita humildade. A humildade será muito importante. Esta comunicação horizontal exige uma mudança de postura por parte do político, pois ele vai ter que dialogar na mesma linguagem de quem o está abordando em uma rede social. Tem dois ministros, o Paulo Bernardo e o Padilha, que são tuiteiros inveterados. É muito normal a gente falar duas ou três vezes com eles por dia e ver que pessoas anônimas dão uma tuitada e eles respondem também. Imagine! Quando um brasileiro iria falar com um ministro? Quando um brasileiro falava com um senador, um deputado? Isso aproximou as pessoas e acho que a postura do político deve ser de interação e diálogo e não de soberba. Se ele ficar sempre com a razão, não estará interagindo, por isso a humildade é importante. Ouvir muito e levar em conta o que está sendo dito na internet.
Sabemos que é impossível para uma pessoa pública responder a toda a demanda gerada em uma ferramenta de rede social. Como você analisa o papel das assessorias que ajudam estas pessoas a selecionar perguntas, respondê-las etc.?
Acho que é uma nova área de atuação para os profissionais de comunicação. Tem o assessor que tuita pelo político – coisa que eu não condeno, desde que fique clara a participação da equipe, que ele não finja ser uma coisa quando é outra. Tem a assessoria que ajuda a organizar respostas, mas que conta com a participação direta do assessorado, que define o assunto e o que será dito. Um exemplo é a Dilma. Pelo menos até este momento em que estamos gravando, é ela quem está tuitando. O Twitter da campanha é outra coisa, mas o Twitter pessoal dela é uma reivindicação que ela tinha desde o ano passado e que teve a oportunidade de fazer agora. Mas é dela. Ela está decidindo durante a manhã o que ela vai tuitar. É obvio que a Dilma não é igual a mim, igual a nós que estamos o dia todo na internet. Ela tem um tempo limitado na rede. Ela não vai poder responder e interagir da forma que seria o ideal do manual do marketing social. Mas, ela expressa o que ela é na internet. Então, é natural que a Dilma não de tantas tuitadas por dia, mas ela está conseguindo ser ela mesma na internet. Foi uma opção dela, de não delegar à assessoria as suas tuitadas. É óbvio que a gente está pensando agora em ajudar a organizar esta demanda de interação, para que ela possa decidir o que vai responder, o que vai tuitar. Mas, até este momento, por incrível que pareça, é ela quem lê seus tweets e decide o que é relevante, o que vai postar.
Apesar de ser um novo campo para a saturada área da comunicação social, apesar de gerar oportunidades de trabalho para muita gente, a assessoria em redes sociais ainda é vista com desconfiança no meio jornalístico. O jornalista é conservador quando se fala em novas tecnologias?
Não posso generalizar, mas sim. Lembro que antes das redes sociais, da internet, o próprio uso do computador foi dificilmente assimilado pelos jornalistas. Usavam a máquina de escrever e, de repente, chega o computador. “Vou ter que aprender esta coisa nova!”. No início, nos anos 80, havia grande resistência dos jornalistas em usar micro-computadores. Eu tinha amigos jornalistas que se negavam. É a mesma coisa. Existe também uma questão geracional. Os jornalistas mais novos acham isso normal, vibram com a possibilidade das redes sociais. Os jornalistas mais antigos ainda têm uma resistência muito grande, uma desconfiança em relação às possibilidades geradas por elas.

Marcelo Branco em uma palestra na Campus Party
Marcelo Branco em uma palestra na Campus Party

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Para complementar, outra entrevista com Marcelo, desta vez que foram feitas em uma matéria do Estadão

O sr. diz que não é publicitário, não é marqueteiro, não é jornalista. Qual a sua função na pré-campanha hoje?
Eu sou profissional da tecnologia da informação. Estou na internet antes de ela existir, na origem da rede. A minha formação é Engenharia Eletrônica incompleta. Sou formado na rede. Coordeno a estratégia nas redes sociais. Não na internet, mas nas redes sociais (Twitter, Facebook, Orkut), nesta visão de que a internet serve para mobilizar os apoiadores para o debate na vida real.
É uma atuação diferente de uma ação mais institucional, como o blog oficial, por exemplo.
Claro que o blog está dentro da estratégia. Agora, quem é o editor do blog, quem escolhe os conteúdos é uma equipe de comunicação que está subordinada ao Rui Falcão (vice-presidente nacional do PT), da coordenação de campanha. Então o meu trabalho cotidiano não é ficar validando os conteúdos que vão para o blog, a foto que sobe, o texto que está ali. E esse blog é o blog pessoal da Dilma. Existe muita confusão. Não é um blog de campanha. A campanha só pode ser feita a partir de 5 de julho.
Os núcleos da pré-campanha estão pacificados, as funções bem definidas?
Claro, está tudo bem definido. A campanha tem uma coordenação política que o José Eduardo Dutra (presidente do PT) preside, junto com os demais partidos da base aliada; temos uma coordenação de comunicação feita pelo Rui Falcão; temos uma estratégia de Marketing que é do João Santana. E a gente só desdobra isso para as redes sociais. Nós não vamos inventar uma campanha política nas redes sociais. Está tudo muito tranquilo. Cada um tem o seu papel. Se tivesse dois marqueteiros podiam dizer que está havendo conflito. Não. O clima é muito tranquilo, não existe nenhum tipo de diferença. Claro que estamos em período de ajuste, em que a equipe está chegando, estamos nos conhecendo, e vamos fazer o melhor possível. Temos as melhores pessoas para fazer uma grande campanha. Na parte mais técnica, não dá para deixar de reconhecer que o João Santana é um gênio do Marketing Político.
Na sua opinião a internet não é necessariamente o espaço para a guerra eleitoral. Mas essa não tem sido a ação prioritária do PT e do PSDB?
A gente tem que pensar a internet nas eleições não só como um espaço para fazer a disputa da comunicação dentro dela, mas também como um espaço de organização da militância e dos apoiadores para fazer o debate fora dela. Nós não sabemos hoje, ainda, qual o peso que a internet vai ter nas eleições, o porcentual de eleitores que vai decidir o seu voto a partir da influência da internet. Por que? Porque são as primeiras eleições com internet livre no Brasil, e quem disser qualquer coisa vai estar chutando. É óbvio que a internet vai ter um peso muito maior do que teve até então, pois antes não tinha papel nenhum. Por isso estamos apostando neste espaço. Nossa compreensão é que o espaço de debate que as redes sociais podem promover é para alimentar os apoiadores com argumentos, desmentidos, mostrando as realizações do governo Lula, mas que esses conteúdos sirvam para o debate político fora da internet no bairro, no local de moradia, na fábrica, etc. Não pensar na internet como algo isolado da vida real. A eleições vão se decidir majoritariamente pelo que acontecer nas ruas.
O sr. cita avanços da minirreforma eleitoral e polêmicas, como a questão do anonimato e do direito de resposta.
Não é perfeita a legislação. A internet não é um meio de comunicação de massa, mas um espaço de expressão individual. Acho que os legisladores acertaram a mão quando mudaram essa visão. Mas duas coisas, no meu ponto de vista particular, e não é a visão da campanha, nem da Dilma, precisam ser mudadas. Uma é o tema do anonimato. O anonimato na internet está no princípio da rede. Quando a legislação proíbe o anonimato das campanhas políticas na internet é algo falho, é ridículo, né, tentar impedir que alguém poste um blog e não assine. O segundo (tema) é o direito de resposta, que ficou estabelecido. Acho difícil de executar, de praticar. O direito de resposta na internet significa que eu vou ser obrigado a colocar no meu blog e no meu twitter algo que eu não penso. Isso não significa que esteja isento a processos. A liberdade de expressão não dá imunidade às pessoas.
O anonimato não impede a abertura de processo na Justiça, sobretudo em caso de campanha eleitoral? Processar quem?
Por isso essas coisas na internet vão precisar ser melhor resolvidas. O anonimato na internet garante a liberdade de expressão, na China, no Irã, em países onde não tem democracia. O anonimato hoje na internet serve mais para a defesa dos direitos civis. Mas o principal é que a nova legislação eleitoral coloca na cena política, como protagonistas, milhões de pessoas pela primeira vez. Pessoas que não tinham possibilidade de se expressar com seus conteúdos, seus textos, seus vídeos, suas propostas políticas antes de a internet estar na rede e ser um espaço de discussão política. Isso vai ser possível. Não é possível o eleitor de A, B ou C colocar o seu conteúdo na TV. Mas hoje é possível que milhões de pessoas entrem no debate político como protagonistas (com a internet). Isso exige uma descentralização da campanha política. Não vão ser as coordenações das campanhas políticas que vão dizer o que é a linha da campanha. Quando há milhões de pessoas colocando seus conteúdos, essas pessoas vão poder influir nos rumos da campanha política do seu candidato.
E qual vai ser o papel então das coordenações de campanha na sua opinião?
Nossa estratégia não é pagar blogueiro e twitteiro para ficar destruindo reputação de pessoas na rede. Parece que tem sido a estratégia do nosso adversário na internet, que não tem nada na internet até agora a não ser o “petralhas”, o “mentiroso”, ataques pessoas, etc. Fizeram algo grave sob o ponto de vista jornalístico que foi fraudar o conteúdo (de texto) da Danuza Leão, e atribuir esse conteúdo à Marília Gabriela. Isso foi feito não anonimamente. Foi feito por pessoas que estão na direção da campanha do Serra. Isso, em qualquer lugar do mundo, teria destaque na imprensa de forma estrondosa. É algo grave o que aconteceu.
Considera isso manipulação de informação?
Não, isso é atentado à democracia, ao jornalismo.
E a polêmica sobre a foto da Norma Bengell no blog da Dilma? Considera manipulação, equívoco?
Faz parte do jogo político. Se tu passa o mouse em cima a legenda aparece: “manifestação nos anos 60” e “Dilma, ministra do Lula”. É óbvio que os nossos adversários políticos vão dizer que estamos manipulando, é stalinismo. Sob o ponto de vista jornalístico, é óbvio que isso não é relevante. Agora, sob o ponto de vista dos interesses político-partidários dos adversários isso passou a ser relevante. Um blog, com a complexidade que ele tem, e só 10 dias depois que está no ar se acha um negócio para atacar, que é a foto da Norma Bengell, prova que a nossa política do blog é um sucesso.
Quais são as tais gafes que estão sendo apontadas na campanha digital da Dilma: a foto da Norma Bengell; ela dizer um termo que qualquer brasileiro que sabe o que significa _ quando ela diz mais ou menos assim que o Vidas Secas trata de um tema dos brasileiros que estão na miséria no Nordeste e vêm para o Brasil. Dizer que a Dilma, quando fala isso, não sabe que o Nordeste é Brasil ou está querendo dizer que o Nordeste não é o Brasil faz parte do jogo político.
Não estou dizendo que não faz parte do jogo democrático apontarem a falha na foto, darem destaque a uma expressão que poderia ser melhor usada. Mas, apontar isso como crise na campanha e que essa crise exige a demissão do Marcelo Branco, eu acho que isso é partidarizar o jornalismo por interesses políticos. Se apontarmos as gafes do Serra certamente são muito maiores, como o que ele falou em relação do Mercosul.
Essa tentativa de destruir a reputação de profissionais que estão ao lado da campanha da Dilma é algo organizado, não é algo espontâneo na rede. Vocês me conhecem, até então não tinha nada contra a minha profissão. Ninguém dizia que eu era um incompetente. Agora, vou dar um exemplo, blogueiros em campanha, de veículos importantes, dizem: “o cara é um hippie sujo, um cabeludo”. O que isso soma para a democracia? Existe sim estratégia de destruir reputações na rede e essa estratégia está sendo encabeçada pela coordenação de campanha do PSDB na internet. Os blogueiros do PSDB, que municiam a disseminação de conteúdos nas redes sociais, contratados e pagos por empresas jornalísticas, dão munição para o ataque. E com um texto totalmente desqualificado. O que interessa se o meu cabelo é comprido, se eu tomo banho e se eu não tomo banho? Pô, quem me conhece sabe que eu sou cheirosinho… Vamos combinar, né cara! Nós na campanha da Dilma estamos sendo inovadores na internet. Por isso é que estamos sendo atacados. A Dilma foi ao vivo duas vezes pela internet, fez debate com blogueiros pela rede. Ela lançou o Twitterdela pelo Twitter. Não foi uma nota de imprensa. Eu passei a seguir ela e ela a me seguir, e 30 minutos depois tinha 1.200 seguidores, meia hora depois 3.000.
Não existe nenhuma crise na campanha.
Vai ser criado o blog de campanha?
Claro, vai ter um blog de campanha, quando isso for permitido. Neste momento não. Agora é um posicionamento, e com coragem. O blog está bonito, os conteúdos a gente vai ajustando. Nada na internet é definitivo. A internet é um espaço para acertar e errar. Não esperem que a gente vai fazer super produção na internet. Os erros vão estar ali. As pessoas são humanas, vão errar. Superdimensionar qualquer tipo de erro, tentando transformar isso numa crise, faz parte do jogo político.
E em alguns momentos houve erros, sendo preciso mudar a estratégia?
Não. Falei dos “erros” apontados pelo nosso adversário e que tiveram repercussão na mídia. Na minha opinião, acho que fatos como esse vão acontecer muitas vezes na campanha, e talvez até de maior gravidade. Acho que estamos sendo pressionados para que a gente saia da internet, e que a gente fique imóvel na pré-campanha, que seria uma opção. A estratégia do nosso adversário é zero, ele não está na internet, ele não existe na internet, então ele não erra.
Ele está no Twitter.
Mas isso ele já estava antes da campanha eleitoral. Não foi feito depois. O que tem do PSDB na internet é o mentiras (o blog Gente que Mente), o “petralhas”. Nós não. Nós estamos lá com a pré-candidata na internet, o Twitter dela com mais de 55 mil seguidores, saiu do zero. E o Twitter da Dilma é feito por ela, é ela que posta, ela que escolhe o que vai postar. Tem os caras que escreveram os manuais do marketing digital, como tem que se portar um candidato no Twitter. O Serra é o Serra no twitter, a Dilma é a Dilma, eu sou eu, tu é tu. Cada um tem uma forma de se comunicar.

Vi ambas entrevistas no Midia8.

Por Dennis Altermann

Criei este blog para compartilhar alguns conteúdos relevantes sobre comunicação digital e o impacto dos meios digitais na sociedade. Aproveita para interagir comigo lá no Twitter @eu_Dennis