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Internet no Trabalho: Mais ou menos produtividade? Depende.

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Foto: Shutterstock

A pergunta nem é mais entre deixar os funcionários acessarem redes sociais ou não, estamos falando de algo muito mais amplo. Na sua empresa, você pode acessar o Youtube, Facebook e/ou email pessoal em horário de trabalho? Tem internet “livre”?
Para quem está no comando é muito difícil saber lidar com a liberdade de uso da internet. Até onde é saudável, do ponto de vista da empresa, deixar que os seus funcionários acessem seu email pessoal, redes sociais em geral ou qualquer site da internet? Para quem está trabalhando em frente ao computador, no dia-a-dia, sabe que pode ser muito interessante ter pequenas distrações dentro da internet, mas como saber até onde é saudável?

Os mitos da produtividade

O primeiro ponto a ser esclarecido, antes de aprofundar nesta discussão, é sobre o efeito que a liberdade dentro da internet tem na produtividade de cada funcionário.
Uma pesquisa de 2009 realizada pela Universidade de Melbourne (Austrália) pelo Dr. Brent Coker, que estudou os hábitos de 300 trabalhadores, trouxe informações interessantes sobre a relação entre produtividade e navegar na internet.
Neste estudo o professor trouxe a “regra dos 20%”, pois, segundo seus estudos, aqueles funcionários que gastavam até 20% de seu tempo do trabalho navegando na internet para fins pessoais tinham uma taxa de produtividade maior do que aqueles que nunca davam aquela “escapadinha”.
Mas isso não quer dizer que você deve navegar o dia todo, já que a mesma pesquisa mostrou que aqueles que usavam mais do que 20% do seu tempo para fins pessoais tinham uma produtividade pior do que aqueles que nunca navegavam. Se é para navegar para fins pessoais, deve-se fazer com moderação.

“Pessoas precisam sair um pouco para conseguir se concentrar novamente. Pequenas pausas, como uma ‘navegada na web’, ajudam a mente a descansar, levando a pessoa a ter mais concentração na sua tarefa posteriormente, aumentando assim, a sua produtividade. Tradução adaptada da fala do Dr. Brent Coker

É claro que existem muitos níveis de concordância e discordância com esta pesquisa, pois trata-se apenas de um estudo. Nem todos os países do mundo vivem na mesma realidade da Austrália.
Você pode ver mais informações sobre esta pesquisa neste link.

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Foto: Shutterstock

Para trazer ainda mais embasamento para esta pesquisa, outro estudo, dessa vez da Harvard Business School, de 2011, realizada pelos pesquisadores Bucciol, Houser e Piovesan, trouxe a ideia de que resistir a navegar livremente pela internet tem um impacto maior (negativamente) na produtividade do trabalhador, maior do que ele ter a liberdade de navegar, por exemplo.
A sugestão dos pesquisadores é abrir espaço para que o funcionário utilizem a internet para assuntos pessoais, mesmo que alguns minutos a cada hora, mesmo que seja necessário reduzir (ou renegociar) outros intervalos, como o do almoço, por exemplo.
Dois materiais destes pesquisadores podem ser encontrados aqui (“Is web surfing distracting your workers?”) e também aqui (“Temptation at Work”).
Para entender um pouco melhor os problemas do que acreditamos nos deixar mais produtivos, recomendo a leitura do post “7 mitos da produtividade desbancados” e “Mais 5 mitos sobre produtividade desbancados pela ciência“, do blog HypeScience.
Resumindo, não adianta forçar a barra. As pessoas não rendem por tempo determinado, portanto, pequenas pausas (para navegação na internet ou não) sempre ajudam a melhorar a produtividade e até mesmo o bom humor dos trabalhadores. Qualidade de vida também é importante, ainda mais a longo prazo.
Lembre-se que funcionários com mais qualidade de vida e menos stress rendem mais a longo prazo, pois tendem a ficar menos doentes ou procurar outros empregos.

Redes sociais não são o problema

Hoje em dia encontramos tudo que podemos imaginar dentro da internet e culpar o acesso a redes sociais pela falta de produtividade é simplificar demais todo o potencial que a internet tem ou mesmo fugir da responsabilidade do gestor em entender a falta de produtividade de seus subordinados.
Facebook é o segundo site mais visitado dentro do Brasil, mas bloquear ele apenas livra você daquelas pessoas que querem ver as fotos do final de semana ou conversar com os seus amigos através do chat. Sem Facebook, existem outras milhares de redes sociais para a pessoa aprender a usar.
Se você bloquear todas as redes sociais, ainda assim, não irá impedir a pessoa de acessar o G1, UOL, Yahoo, Blogspot, Live e outros que estão na lista dos 10 mais acessados dentro do Brasil.
Bloquear completamente a internet pode ser o seu único caminho, mas no final apenas conseguirá ter trabalhadores possivelmente mais ansiosos e limitados a não poder usar a internet. Você sabe a importância de uma simples busca no Google?
As pessoas que veem a internet apenas como um tempo gasto muitas vezes não param para pensar que o mundo real também é cruel. Sem internet (uma distração), as pessoas podem facilmente procurar por outras distrações, que incluem desde uma pausa maior para o cafézinho até a necessidade de ir no banheiro regularmente.
A maioria das empresas não percebe que os trabalhadores não vão conseguir ser produtivos por 8 horas ininterruptas, as pessoas precisam de pausas, precisam respirar. As pesquisas que trouxe nesse post inclusive corroboram isso. Nosso cérebro precisa descansar.
Se os seus funcionários não são produtivos a culpa não é da internet, mas do local onde elas trabalham ou do exemplo que eles têm.
Uma pesquisa de 2013 que coletou dados por mais de dois anos, realizada pela Microsoft, demonstrou que o uso de mídias sociais em horário de trabalho pode ajudar na produtividade. A pesquisa foi feita com 9.908 trabalhadores em 32 países. Você pode ver mais informações sobre essa pesquisa acessando este link.

“Não apenas esta premissa está errada [de que uso de mídais sociais inibe a produtividade] – nós também estamos aprendendo que as políticas de bloqueios e banimento são ineficientes, dando aos supervisores mais tradicionais um falso senso de controle que, na realidade, está se esvaindo” Nancy Baym, pesquisadora

Os tempos mudaram, temos novos líderes

Pessoas mais velhas tendem a não entender a importância da internet na vida das pessoas e é muito comum ver empresas onde os gestores nem email tem, quanto menos uma conta em alguma rede social. O resultado são pessoas que não usam a internet e não conseguem ver problema em bloquear ela para todo o resto de sua empresa.
Mas isto está mudando, hoje temos novos líderes, pessoas que já cresceram usando a internet e também gostam de gastar alguns minutos navegando na ~rede mundial de computadores~. Você acha justo você não ter Facebook, mas o seu chefe acessar ele o dia todo? As pessoas querem direitos iguais.

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Homer S. não tinha internet, redes sociais ou smartphones. É um exemplo de trabalhador?

As novas gestões estão atentas e sabem que a internet pode ser uma grande ferramenta para qualquer trabalhador, por isso, não conseguem enxergar ela como um inimigo, mas como um aliado.
O desafio não é mais como impedir que as pessoas acessam a internet, mas como elas a usarão de forma racional, de forma que não afete gravemente a sua produtividade.

Você pode tirar a minha internet, mas não o meu telefone… ou pode?

Outro fator que está mudando completamente a visão que temos sobre acesso a internet em horário de trabalho são os smartphones. Apesar de os dados mostrarem que pouco menos de 1/3 da população tem um smartphone, sabemos que praticamente todo mundo ao redor da gente tem um.
Se a pessoa não pode acessar o Facebook no seu computador do trabalho, o que impedirá ela de o fazer em seu smartphone?
As empresas podem criar regras internas que proíbam o uso do celular ou deixem claro quais as limitações sobre o uso dessas ferramentas dentro do local de trabalho. E sim, o desrespeito destas regras podem levar a demissão por justa causa.

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Foto: Shutterstock

Em uma matéria sobre o assunto, há uma entrevista com a advogada Kelma Carrenho, que atua na área cívil e trabalhista e afirma:

“Se houver no local de trabalho a proibição do uso de celular e todos os empregados tiverem conhecimento dessa proibição e mesmo assim o empregado insistir em fazer o uso do aparelho em ambiente e horário de trabalho, o empregador poderá advertir o empregado. E se este empregado insistir na utilização do celular o empregador poderá aplicar a pena de suspensão. Caso não surta efeitos e o empregado insista na conduta, poderá o empregador demitir por justa causa este empregado por ato de indisciplina e insubordinação.”Kelma Carrenho, advogada

É claro que tudo isto precisa estar muito claro para o funcionário, tanto na hora da contratação como em avisos dentro da empresa.
No final, podemos dizer que o limite de acesso e liberdade em relação a internet (e podemos colocar os smartphones aqui também) dependem bastante de cada posto de trabalho. Um trabalho físico, fora do escritório, é muito diferente do trabalho dentro de um escritório. A exposição de cada um a internet tem diferentes níveis. Mesmo quem trabalha dentro de escritórios tem níveis diferentes de exposição a internet.
A dica que posso deixar, pensando de forma ampla sobre todos os postos de trabalho que existem, é que não tranquem seus trabalhadores em jaulas como se fossem animais, mas também devemos cuidar para não dar liberdade demais para aqueles que não conhecem seus limites.
Como é na sua empresa? Deixe a sua opinião!

Bom, hora de voltar a trabalhar.
Bom, hora de voltar a trabalhar.

Por Dennis Altermann

Criei este blog para compartilhar alguns conteúdos relevantes sobre comunicação digital e o impacto dos meios digitais na sociedade. Aproveita para interagir comigo lá no Twitter @eu_Dennis