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Isso Muda os Seus Negócios

Existe uma diferença essencial entre copiar, compartilhar e remixar.

Nos últimos dias tive uma pequena decepção pessoal. Fiz uma adaptação do infográfico “What brands post on Facebook?” da Pandemic Labs para criar uma imagem usando os mesmo dados, mas utilizei apenas um pedaço dele. Esta imagem foi publicada na fan page da Magoweb, onde eu trabalho, com o logo da empresa e também da Pandemic Labs.
Ai que começa a minha decepção, outra empresa resolveu pegar essa imagem, remover os logos da Magoweb e da Pandemic Labs e usar o mesmo texto para publicar em sua fan page. Ok, não é um grande problema, não estou sendo vitima de nenhum crime. O excesso de preocupação com “o que é meu e o que é seu” também perde um pouco o sentido na internet, devo admitir. Também não podemos acusar ninguém sem saber a circunstâncias do crime.
Mas não vim aqui reclamar dos problemas desta vida moderna, mas sim entender um pouco melhor o que podemos considerar uma “cópia”, o que é “compartilhar” e quando as coisas são apenas um “remix”.

Copiar

Segundo o querido e lendário Michaelis, copiar é:

co.pi.ar
(cópia+ar2) vtd 1 Fazer a cópia escrita de; transcrever, trasladar: Copiar um discurso. Copiar do original essa poesia.2 Reproduzir (falando de uma obra de arte): Copiar um painel. Copiou de um tipo ideal essa bela imagem. 3 Fazer a sua obra a exemplo de; inspirar-se de: Copiava-lhe as graças e os tons do estilo. “Da pintura copia a cor e o debuxo dos seus quadros” (Latino Coelho). 4 Imitar, plagiar.Dicionário Michaelis

O conceito mais compreendido é o 4, “imitar, plagiar”, que significa que você usou o conteúdo de algo/alguém e pegou para você. Você pode copiar algo legalmente e ilegalmente, ou seja, dentro de leis vigentes ou simplesmente pulando o muro e fazendo do seu jeito.
Exemplificando a situação. Comprar um jogo original é comprar uma cópia para você legalmente. Baixar o jogo no Pirate Bay é ilegal, o famoso “piratear”.
Então quando você copia o conteúdo de alguém, você está usando os direitos de outra pessoa para o seu próprio benefício. Isso algumas vezes pode não ser ilegal, mas pode ser errado. Na internet se aceita o conceito de “desde que cite a fonte, ok”. Isso é um espirito um pouco diferente, mais humanizado, que entende que tudo pode ser compartilhado de diferentes formas. Ai começa a briga em Direitos Autorais (c) e Direitos Creative Commons (cc).

© vs CC

O Direito Autoral (também conhecido como copyright ou pelo símbolo ©) é reconhecido como a denominação de direitos legais sobre obras intelectuais (literária, artística ou científica). Ou seja, algum conteúdo marcado com © não pode ser reproduzido sem prévia autorização ou repasse financeiro sobre os direitos.
Para quem quer ler mais sobre direitos autorais no Brasil, recomendo este link.
Já o CC (Creative Commons) é uma organização que criou a sua própria licença de uso de obras intelectuais, uma licença reconhecida praticamente no mundo todo e que tem uma perspectiva um pouco diferente. No CC o autor pode desde o início distribuir o seu trabalho em uma das seis licenças disponíveis:

  • Somente atribuição (CC-BY)
  • Atribuição + Uso não comercial (CC-BY-NC)
  • Atribuição + Não a obras derivadas (CC-BY-ND)
  • Atribuição + Compartilhamento pela mesma licença (CC-BY-SA)
  • Atribuição + Uso não comercial + Não a obras derivadas (CC-BY-NC-ND)
  • Atribuição + Uso não comercial + Compartilhamento pela mesma licença (CC-BY-NC-SA)
Muitos reclamam que o CC não é suficientemente abrangente, mas ele já permite que os autores de conteúdo deixem mais claras as suas intenções em relação ao que esta sendo distribuído.
Este blog que você está lendo, por exemplo, está licenciado oficialmente (desde a sua última atualização para versão 6) na licença CC-BY-SA 3.0, ou seja, você pode compartilhar, reproduzir, adaptar o trabalho e inclusive fazer uso comercial dele, desde que você atribua a fonte (diga que tirou do blog) e compartilhe dentro da mesma licença (não pode usar para algo que tenha ©, por exemplo).
Compartilhar arquivos não é pirataria!

E onde está o copyleft nessa história?

copyleft, como já fica claro no nome, é uma oposição direta ao copyright. Este é um movimento como um todo, sendo as licenças creative commons um exemplo de copyleft, mas ele pode ser representado por outras licenças também.
Para mais informações sobre o Copyleft recomendo a leitura desse post do Baixa Cultura.

Diferença entre copiar e compartilhar

É nessa grande discussão que entramos hoje quando falamos de conteúdo na internet. Alguém tem direito sobre uma foto que tirou e depois postou no Flickr? Ou melhor, qual o direito que ela tem? É uma discussão complexa que fundamenta grupos de discussão a muito tempo.
Para blogs, por exemplo, o CC é praticamente predominante, especialmente porque ele está muito mais ligado a “cultura de compartilhamento livre” da internet. A grande maioria vive na mesma ideia simples de que você pode compartilhar e reutilizar qualquer conteúdo, desde que atribua a fonte. É bem comum ver um link no final dos posts ou menções dentro do mesmo. Muitos infográficos são distribuídos sob licenças semelhantes.
Vídeos no Youtube podem usar um dos níveis do CC, mas por padrão usam os direitos padrões do Youtube que são restritivos de forma geral.
Segundo o dicionário, compartilhar significa:

com.par.ti.lhar
(com2+partilhar) vtd Participar de, ter ou tomar parte em:Compartilhou a sorte do esposo. Compartilhou com os seus soldados a glória do triunfoDicionário Michaelis

Então, voltando ao assunto lá do começo, sobre o ‘roubo’ da imagem. Minha decepção não é por ter conteúdo roubado, mas sim porque as pessoas desconhecem esse ‘espirito CC’ que a internet apresenta, onde as pessoas não se importam tanto com os direitos individuais, mas querem ao menos receber as atribuições sobre o que fizeram.
Quem tem blog sabe que é normal ver o seu conteúdo copiado, sabe que todos os dias diversas pessoas copiam o seu trabalho. A grande maioria adiciona um link no final, onde diz a fonte original do texto, mas muitos não fazem, faz parte. Existe um verbo-internético criado para definir isso, o “kibar” (sim, é uma referência ao Kibe Loco).

O ciúme por um conteúdo que não é mais apenas seu

Agora entramos no outro lado da moeda. Durante a palestra “Embracing the Remix” de Kirby Ferguson no TED, o autor do documentário “Everything is a Remix” (que você pode encontrar aqui) fala um pouco sobre essa cultura de patentes e problemas legais na indústria da música.
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=zd-dqUuvLk4]
Durante a sua fala ele traz algo que também está em seu documentário. As pessoas tem uma estranha possessão sobre as coisas. “Eu fiz, eu quero para mim”. Ele lembra a famosa frase de Steve Jobs:

Bons artistas copiam, grandes artistas roubam. Steve Jobs comentando a sua relação com a Xerox

E Kirby adiciona um comentário interessante a essa frase de Jobs. “Bons artistas copiam, grandes artistas roubam. Desde que não seja de mim” – Trazendo uma frase mais recente de Steve Jobs, onde ele mostra (ironicamente) a sua indignação com a sistema operacional Android que ele considera uma cópia descarada do seu iPhone.
Ao longo de seu documentário ele mostra que é uma inocência nossa pensar que podemos produzir algo simplesmente do zero. Mesmo Steve Jobs, considerado um gênio por seus seguidores, usou diversas referências para as suas construções. Kirby tenta deixar claro que quando criamos algo parecido não estamos “copiando”, mas “remixando” algo que nos foi apresentado antes. A criatividade que ostentamos é fruto de muitas referências (quanto mais, melhor).
O documentário “Everything is a Remix” é uma ótima forma de você entender um pouco melhor o conceito de “remix”.

Por Dennis Altermann

Criei este blog para compartilhar alguns conteúdos relevantes sobre comunicação digital e o impacto dos meios digitais na sociedade. Aproveita para interagir comigo lá no Twitter @eu_Dennis